Hoje
a saudade me fez despertar bem cedinho. Diferentes razões tiraram-me o sono e botaram-me fora da cama
antes das seis nos últimos anos, principalmente os estudos. A preocupação com
os filhos também já executou essa tarefa. E as angústias de gente grande
também, é claro. Muita coisa já me despertou nessa vida, balançou meu corpo
adormecido, encheu minha mente de ideias e acelerou meus pensamentos, mas a
saudade é coisa inédita nesse quesito.
Acordei
hoje com saudade daquele tempo em éramos pessoas simples. Todos éramos iguais.
Não tínhamos quase nada, somente uma casinha singela para morar, um meio de
transporte para nos locomover e o dinheiro contadinho para pagar as contas do
final do mês. Tudo era escasso nas nossas vidas, exceto a paz, a pureza e a alegria que a gente alimentava na
companhia dos amigos. E estávamos sempre juntos. Não tirávamos fotografias para
registrar aqueles momentos ( Isso custava muito caro. Mandar fotos para serem
reveladas não era para qualquer um e contratar retratista menos ainda. Máquina
fotográfica era artigo de luxo!) e tampouco publicávamos nossas fotos em redes
sociais (nem sabíamos o .que era internet), mas promovíamos encontros de
comemoração sem motivo nos quais a única coisa a ser comemorada era a própria
vida.
Fazíamos festas de arromba com pouca coisa,
shows com disco tocando na vitrola e dançávamos, ríamos e conversávamos
bastante.O que importava era estar juntos de quem a gente queria bem. Ninguém
se importava com a qualidade ou quantidade do que era servido pelo anfitrião da
vez. A alegria de estar no seu lar compartilhando com ele o simples fato de
estar vivo, não tinha preço.
Durante
a semana o trabalho era árduo, no entanto, a dureza da labuta diária não
impedia que de vez em quando alguém aparecesse na sua casa numa noite qualquer
e sem avisar. A surpresa não causava aborrecimento, ao contrário, trazia
consigo uma alegria imensa. A televisão era deixada de lado e todo mundo
conversava descontraidamente sobre banalidades (e fatalidades, caso houvesse).
Nessas ocasiões era oferecido café fresco aos visitantes. Café com língua como
dizia minha mãe, porque não geralmente não se tinha bolos e biscoitos para acompanhá-lo
Os
domingos eram regados de risos e vozes altas. Casas cheias, crianças correndo,
cachorro, periquito e papagaio também. Tudo misturado. Era uma deliciosa
bagunça que reinava da cozinha onde era preparada uma deliciosa galinha caipira
com feijão farofado, até a sala onde se jogava partidas intermináveis de dominó
ou cartas. O bom humor reinava absoluto. Ninguém estava preocupado com
monografias e nem teses de doutorado, nem com a crise europeia, muitos menos
com a CPI do Cachoeira. A vida era uma festa e viver era festejar estando
rodeado de amigos porque nisso se resumia a felicidade.
Fico
pensando. Estudamos tanto para ter a tão sonhada vida de qualidade, com a
consequente melhoria dos nossos salários. Trabalhamos feito burros de carga,
muitas vezes de domingo a domingo. Agendamos todos os nossos compromissos. O
tempo é pouco para nós. Não temos tempo de ligar para os nossos amigos, muito
menos visitá-los. Caso tenhamos tempo, falta-nos dinheiro para oferecer um
almoço à altura para podermos convidá-los. Sim, porque ninguém mais bate à
porta do outro sem ser convidado. Por isso sabemos tanto do mundo e tão pouco
dos nossos amigos e de nós mesmos porque nos entendíamos, compreendíamos as
nossas dores e os nossos conflitos nas dores e conflitos daqueles que se abriam
conosco. Percebíamos a nossa condição de humanos com mais facilidade. E penso
que éramos mais completos e mais felizes.
Não
falo pelo outros. Falo por mim. Que saudade daquele tempo em que a vida era
feita de amigos verdadeiros, simplicidade e outras coisas.
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