quinta-feira, 31 de maio de 2012

De amigos verdadeiros, simplicidade e outras coisas

Hoje a saudade me fez despertar bem cedinho. Diferentes razões  tiraram-me o sono e botaram-me fora da cama antes das seis nos últimos anos, principalmente os estudos. A preocupação com os filhos também já executou essa tarefa. E as angústias de gente grande também, é claro. Muita coisa já me despertou nessa vida, balançou meu corpo adormecido, encheu minha mente de ideias e acelerou meus pensamentos, mas a saudade é coisa inédita nesse quesito.

Acordei hoje com saudade daquele tempo em éramos pessoas simples. Todos éramos iguais. Não tínhamos quase nada, somente uma casinha singela para morar, um meio de transporte para nos locomover e o dinheiro contadinho para pagar as contas do final do mês. Tudo era escasso nas nossas vidas, exceto a paz, a pureza  e a alegria que a gente alimentava na companhia dos amigos. E estávamos sempre juntos. Não tirávamos fotografias para registrar aqueles momentos ( Isso custava muito caro. Mandar fotos para serem reveladas não era para qualquer um e contratar retratista menos ainda. Máquina fotográfica era artigo de luxo!) e tampouco publicávamos nossas fotos em redes sociais (nem sabíamos o .que era internet), mas promovíamos encontros de comemoração sem motivo nos quais a única coisa a ser comemorada era a própria vida.

 Fazíamos festas de arromba com pouca coisa, shows com disco tocando na vitrola e dançávamos, ríamos e conversávamos bastante.O que importava era estar juntos de quem a gente queria bem. Ninguém se importava com a qualidade ou quantidade do que era servido pelo anfitrião da vez. A alegria de estar no seu lar compartilhando com ele o simples fato de estar vivo, não tinha preço.

Durante a semana o trabalho era árduo, no entanto, a dureza da labuta diária não impedia que de vez em quando alguém aparecesse na sua casa numa noite qualquer e sem avisar. A surpresa não causava aborrecimento, ao contrário, trazia consigo uma alegria imensa. A televisão era deixada de lado e todo mundo conversava descontraidamente sobre banalidades (e fatalidades, caso houvesse). Nessas ocasiões era oferecido café fresco aos visitantes. Café com língua como dizia minha mãe, porque não geralmente não se tinha bolos e biscoitos para acompanhá-lo

Os domingos eram regados de risos e vozes altas. Casas cheias, crianças correndo, cachorro, periquito e papagaio também. Tudo misturado. Era uma deliciosa bagunça que reinava da cozinha onde era preparada uma deliciosa galinha caipira com feijão farofado, até a sala onde se jogava partidas intermináveis de dominó ou cartas. O bom humor reinava absoluto. Ninguém estava preocupado com monografias e nem teses de doutorado, nem com a crise europeia, muitos menos com a CPI do Cachoeira. A vida era uma festa e viver era festejar estando rodeado de amigos porque nisso se resumia a felicidade.

Fico pensando. Estudamos tanto para ter a tão sonhada vida de qualidade, com a consequente melhoria dos nossos salários. Trabalhamos feito burros de carga, muitas vezes de domingo a domingo. Agendamos todos os nossos compromissos. O tempo é pouco para nós. Não temos tempo de ligar para os nossos amigos, muito menos visitá-los. Caso tenhamos tempo, falta-nos dinheiro para oferecer um almoço à altura para podermos convidá-los. Sim, porque ninguém mais bate à porta do outro sem ser convidado. Por isso sabemos tanto do mundo e tão pouco dos nossos amigos e de nós mesmos porque nos entendíamos, compreendíamos as nossas dores e os nossos conflitos nas dores e conflitos daqueles que se abriam conosco. Percebíamos a nossa condição de humanos com mais facilidade. E penso que éramos mais completos e mais felizes.
Não falo pelo outros. Falo por mim. Que saudade daquele tempo em que a vida era feita de amigos verdadeiros, simplicidade e outras coisas. 

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